“[...] estabelece o conceito “bom” como
essencialmente igual a “útil”, “conveniente”, de modo que nos conceitos “bom” e
“ruim” a humanidade teria sumariado e sancionado justamente as experiências inesquecidas e inesquecíveis acerca do útil-conveniente e do nocivo-incoveniente.
Bom é, segundo essa teoria, o que desde sempre demonstrou ser útil: assim pode
requerer validade como ‘valioso no mais alto grau’, ‘valioso em si’”.
(NIETZSCHE, 1999, p. 20).
Na filosofia nietzschiana, as concepções de “bom” e “ruim” nascem de um
povo altivo, impávido, isto é, aqueles que Nietzsche irá nomear de povos
nobres. É necessário salientar, o nobre, na ótica de Nietzsche, não está
relacionado às riquezas, monopólio de algo valoroso no sentido capital. Mas a
nobreza aqui referisse a algo forte, destemido, bom tecnicamente falando, isto
é, não precisa de valores morais perniciosos que tutelem seu pensar e agir. Os
Nobres, estes criadores de valores afirmativos, valores esplêndidos, ou seja, não
gregários. Nietzsche assevera que “[...] toda moral nobre nasce de um
triunfante Sim a si mesma”. (NIETZSCHE, 1999, p.29).
No vocabulário da nobreza, só existe o juízo bom x ruim, o útil x inútil,
o produzível x estéril, contudo, o forte x franco, inábil. É por meio desses
antagonismos, quer dizer, de uma estirpe senhorial x uma estirpe baixa, ou
seja, a supremacia do mais forte e intrépido sobre o ínfimo e vil que a nobreza
desponta. Nietzsche concebe isso como “pathos
da distância”, isto é, aqueles cujo direito era “[...] cunhar nomes para os
valores: que lhes importava a utilidade”. (NIETZSCHE, 1999, p. 19).
Não obstante, os juízos dos valores aristocráticos, valores oriundos de
uma nobreza inestimável, serão agora, deturpados e cunhados como valores
maléficos e pérfidos por um “tipo” de povo que Nietzsche caracteriza como
decadentes por excelência. Por meio desta constatação, Nietzsche assevera que a
moral de rebanho, ou seja, os valores judaico-cristãos nascem de um
ressentimento, de uma revolta contra a estirpe senhorial. Segundo Nietzsche, o
conceito “bom” x “ruim”, agora, são invertidos pela moral ressentida, ou
melhor, na própria linguagem de Nietzsche, pelo “o instinto de rebanho”,
(NIETZSCHE, 1999, p. 19). A inversão moralista será fatal, pois o conceito
“ruim” torna-se o “bom”, ou seja, o misericordioso na estirpe de rebanho, sem
embargo, o conceito “bom” nobremente falando transformar-se em “mau”, pérfido,
malcriado, egoísta moralmente falando.
Nietzsche assegura que toda moral ocidental originou-se de uma
tresvalorização de todos os valores nobres. A moral em vigor nos dias atuais é
fruto de um ressentimento, de uma inveja de tudo que era sublime, altivo,
impávido, temerário e esplendoroso da parte dos nobres. Os valores morais na
atmosfera ocidental, na visão de Nietzsche, são valores niilistas, ou seja,
negadores daquilo que tem mais significância perante tudo, isto é, a “vida”.
Analisando a filosofia nietzschiana numa perspectiva ética, os valores
ocidentais, advindos de um “caldeirão do ódio insatisfeito” (NIETZSCHE, 1999,
p. 32) são pautados em valores além-mundo ou além-túmulo. Estes perpetuados por
uma tradição socrático-platônico e posteriormente desdobrados na moral cristã. Essas
tradições asseveram que o universo é dualista, das quais, concebem um mundo
imperfeito x mundo perfeito numa ótica platônica e um mundo paradisíaco x mundo
finito e destrutível num panorama cristão. Ambos para Nietzsche, niilistas,
desvalorizadores das vicissitudes vitais.
Enfim, sem a preservação, a elevação, o anti-detrirmento da vida, não
existe ética. Sem embargo, lançando mão numa ética nietzschiana, analisamos a
moral ocidental, moral que faz da ave de rapina um animal manso e civilizado,
perdendo assim, seus instintos e suas vontades naturais em prol de algo que subjulga
e condena. Este é o papel da ética, isto é, diagnosticar todo tipo de
massificação e domesticação proveniente de uma moral decadente, fraca e vil, ou
seja, a nossa moral ocidental.
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